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"França quer mostrar ao mundo que tem relações fortes com os países africanos"
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O Presidente de Angola, João Lourenço, inicia nesta quinta-feira, 16 de Janeiro, uma visita de Estado de 48 horas a França a convite do homólogo Emmanuel Macron. Esta deslocação vem reforçar os laços entre os dois países, numa altura em que França vê em Angola um parceiro estratégico, tanto no plano económico como diplomático. Em entrevista à RFI, Sérgio Calundungo, coordenador do Observatório Político e Social de Angola - OPSA, afirma que esta visita ocorre num contexto em que Angola procura potenciais investidores e a França quer mostrar ao mundo que tem relações fortes com países africanos.
O que é que se pode esperar desta visita de 48 horas do chefe de Estado angolano, João Lourenço, a França?
As autoridades angolanas tentarão expor as potencialidades com o objectivo de atrair o interesse de potenciais investidores de França. Angola é um país que tem imenso potencial, mas este potencial convive com um cenário de poucos recursos. Há uma necessidade gritante de investimentos para poder alavancar a sua economia. Mas é importante também olhar para o contexto em que esta visita ocorre. Claramente que ocorre num contexto em que a França também quer ganhar alguma influência. Temos assistido um pouco ao que tem acontecido com a França na região do Sahel.
Acha que a França vai aproveitar esta oportunidade também para diversificar os parceiros?
Eu creio que sim. É uma oportunidade muito grande para França sinalizar, pelo menos ao mundo e aos outros atores que ainda tem a oportunidade de ter uma relação fortes, estáveis e de grande proximidade com países africanos em função dos últimos reveses que se verificaram na região do Sahel.
As autoridades francesas apresentam-se como o primeiro investidor em Angola, falam num stock de investimento no valor de 18 mil milhões de euros, principalmente no sector do petróleo. Mas os sectores de que falam vão para além do petróleo. Mostram interesse na energia solar, no sector das infraestruturas, nomeadamente saneamento e minerais estratégicos. Que tipo de cooperação se pode esperar nestes sectores?
É claramente importante porque vai ao encontro daquilo que tem sido uma das grandes preocupações da Angola, a diversificação da economia. A França faz parte do leque de países que falam do volume financeiro e do investimento que dedicam ao país, até então muito concentrado no sector do petróleo.
Trata-se de um sector que é intensivo de capitais, mas é um sector que promove muito pouco emprego e não contribui tanto para aquilo que, neste momento, é a grande prioridade de Angola, ou seja, a diversificação da economia. É esse esforço que está a ser feito pelas autoridades angolanas para que os investidores franceses olhem para outras oportunidades, como o sector das energias renováveis, os minerais estratégicos e, por que não, o sector da agricultura.
A França foi o primeiro fornecedor de trigo a Angola em 2023. Em 2018, foram assinados uma série de acordos de cooperação. O que é que se pode esperar em concreto para a agricultura nos domínios da irrigação, apoios à reconstrução, por exemplo, da indústria do café, apoio técnico à agricultura?
Sim, esses apoios são precisos. Para Angola vai ser importante o facto de a França ter um manancial em termos de tecnologia, experiência e de recursos financeiros que são necessários para este sector. A França pode partilhar este conhecimento, sobretudo técnico-científico, que vai ser necessário, porque hoje em dia a agricultura requer também um certo conhecimento técnico e científico.
Qual será o contributo da França no projecto do Corredor do Lobito?
O Corredor do Lobito tem um potencial muito grande e representa uma vantagem económica não só para Angola, mas para os países da região, sobretudo para a RDC e Zâmbia.
Portanto, penso que neste projecto há espaço para todos os investidores. No entanto, sempre que reflito no Corredor do Lobito, concluo que há um entusiasmo muito grande, mas eu gostaria muito que, a par do entusiasmo, também houvesse a noção dos potenciais riscos.
Estamos a falar de riscos de cariz ambiental, porque vai entrar muita infraestrutura, muitos equipamentos e alguns deles com algum impacto ambiental numa zona que, durante muito tempo esteve abandonada a si própria e, portanto, não teve muita intervenção humana.
Temos ainda os riscos de cariz social, sobretudo o que poderá gerar um certo descontentamento. Aliás, a França tem assistido, muito recentemente, a este tipo de reivindicações.
Eu acredito que devemos assegurar que todos esses investimentos não se traduzam em invasão de terras, conflitos, disputas pelo acesso à terra, acesso a água, acesso a outros recursos com as comunidades locais.
Portanto, sem dúvidas que o Corredor do Lobito virou um ex-libris e chama muita atenção não é só do ponto de vista do investimento nas infraestruturas de transporte, mas também de infraestruturas de apoio à logística e sobretudo a montante e a jusante, investimentos no sector agrícola, mineral e nos serviços à volta deste corredor.
A França anunciou que está a ser também concluído um acordo para o fornecimento de um satélite a Angola, com o apoia da empresa Airbus e com o financiamento francês da instituição financeira Société Générale. O que é que a França pode aportar a Angola neste domínio?
O domínio das telecomunicações é também uma das grandes preocupações do executivo e da sociedade angolana. Aliás, nós não podemos ter todos esses investimentos sem ter uma grande base de suporte que vem sobretudo do sector de telecomunicações.
Historicamente, nós tivemos algumas tentativas de ter um satélite, sobretudo com apoio tecnológico e fabricado na Rússia. Agora vamos ter provavelmente a possibilidade de ter um satélite ou algum investimento massivo no sector vindo da França. É sempre bom para um país como o nosso ter diferentes alternativas, ter diferentes opções. Vamos lá ver o que é que no dia a dia, em termos práticos, quer para os empresários, cidadãos ou operações económicas e sociais que fazem.
A França diz estar disponível para ajudar no sector da saúde, nomeadamente na construção de um hospital oftalmológico, no fornecimento de material hospitalar e também no sector da educação. Sectores prioritários e cujo investimento acaba por ter mais impactos na vida dos angolanos…
Claramente, e aqui começando com o sector da educação, Angola é um país eminentemente jovem e apoios podem garantir que esta geração adquira as competências necessárias para usufruir em todo este investimento tecnológico que se apresenta no sector da agricultura, por exemplo. Muitos dos nossos institutos médios técnicos do sector agrícola contam com o apoio e com uma forte intervenção da França.
O segundo desafio é claramente no sector da saúde, mas aqui é importante fazer diferente. Não se trata simplesmente de apoio na construção de infraestruturas e equipamentos, mas assegurar que haja uma formação de quadros e desses equipamentos. Isto porque temos hospitais de grande dimensão que depois funcionam aquém da sua capacidade, porque não há ou quadros suficientemente preparados ou equipamentos técnicos, ou se calhar porque não há uma assessoria política de saúde que seja mais adequada para a realidade do país.
A França tem aqui uma grande oportunidade de reescrever e melhorar aquilo que, provavelmente, não fez bem naquilo que têm sido as relações com uma série de países africanos. Ela pode fazer diferente para não ter o risco de se repetir o que se verificou. Há medida que os ciclos políticos vão passando, que os regimes políticos vão mudando, fica sempre uma mágoa em que determinados povos pensam que esta relação [França-África] não foi benéfica para todos. Então, é importante basear estas relações na igualdade, no respeito mútuo e nas vantagens múltiplas.
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O Presidente de Angola, João Lourenço, inicia nesta quinta-feira, 16 de Janeiro, uma visita de Estado de 48 horas a França a convite do homólogo Emmanuel Macron. Esta deslocação vem reforçar os laços entre os dois países, numa altura em que França vê em Angola um parceiro estratégico, tanto no plano económico como diplomático. Em entrevista à RFI, Sérgio Calundungo, coordenador do Observatório Político e Social de Angola - OPSA, afirma que esta visita ocorre num contexto em que Angola procura potenciais investidores e a França quer mostrar ao mundo que tem relações fortes com países africanos.
O que é que se pode esperar desta visita de 48 horas do chefe de Estado angolano, João Lourenço, a França?
As autoridades angolanas tentarão expor as potencialidades com o objectivo de atrair o interesse de potenciais investidores de França. Angola é um país que tem imenso potencial, mas este potencial convive com um cenário de poucos recursos. Há uma necessidade gritante de investimentos para poder alavancar a sua economia. Mas é importante também olhar para o contexto em que esta visita ocorre. Claramente que ocorre num contexto em que a França também quer ganhar alguma influência. Temos assistido um pouco ao que tem acontecido com a França na região do Sahel.
Acha que a França vai aproveitar esta oportunidade também para diversificar os parceiros?
Eu creio que sim. É uma oportunidade muito grande para França sinalizar, pelo menos ao mundo e aos outros atores que ainda tem a oportunidade de ter uma relação fortes, estáveis e de grande proximidade com países africanos em função dos últimos reveses que se verificaram na região do Sahel.
As autoridades francesas apresentam-se como o primeiro investidor em Angola, falam num stock de investimento no valor de 18 mil milhões de euros, principalmente no sector do petróleo. Mas os sectores de que falam vão para além do petróleo. Mostram interesse na energia solar, no sector das infraestruturas, nomeadamente saneamento e minerais estratégicos. Que tipo de cooperação se pode esperar nestes sectores?
É claramente importante porque vai ao encontro daquilo que tem sido uma das grandes preocupações da Angola, a diversificação da economia. A França faz parte do leque de países que falam do volume financeiro e do investimento que dedicam ao país, até então muito concentrado no sector do petróleo.
Trata-se de um sector que é intensivo de capitais, mas é um sector que promove muito pouco emprego e não contribui tanto para aquilo que, neste momento, é a grande prioridade de Angola, ou seja, a diversificação da economia. É esse esforço que está a ser feito pelas autoridades angolanas para que os investidores franceses olhem para outras oportunidades, como o sector das energias renováveis, os minerais estratégicos e, por que não, o sector da agricultura.
A França foi o primeiro fornecedor de trigo a Angola em 2023. Em 2018, foram assinados uma série de acordos de cooperação. O que é que se pode esperar em concreto para a agricultura nos domínios da irrigação, apoios à reconstrução, por exemplo, da indústria do café, apoio técnico à agricultura?
Sim, esses apoios são precisos. Para Angola vai ser importante o facto de a França ter um manancial em termos de tecnologia, experiência e de recursos financeiros que são necessários para este sector. A França pode partilhar este conhecimento, sobretudo técnico-científico, que vai ser necessário, porque hoje em dia a agricultura requer também um certo conhecimento técnico e científico.
Qual será o contributo da França no projecto do Corredor do Lobito?
O Corredor do Lobito tem um potencial muito grande e representa uma vantagem económica não só para Angola, mas para os países da região, sobretudo para a RDC e Zâmbia.
Portanto, penso que neste projecto há espaço para todos os investidores. No entanto, sempre que reflito no Corredor do Lobito, concluo que há um entusiasmo muito grande, mas eu gostaria muito que, a par do entusiasmo, também houvesse a noção dos potenciais riscos.
Estamos a falar de riscos de cariz ambiental, porque vai entrar muita infraestrutura, muitos equipamentos e alguns deles com algum impacto ambiental numa zona que, durante muito tempo esteve abandonada a si própria e, portanto, não teve muita intervenção humana.
Temos ainda os riscos de cariz social, sobretudo o que poderá gerar um certo descontentamento. Aliás, a França tem assistido, muito recentemente, a este tipo de reivindicações.
Eu acredito que devemos assegurar que todos esses investimentos não se traduzam em invasão de terras, conflitos, disputas pelo acesso à terra, acesso a água, acesso a outros recursos com as comunidades locais.
Portanto, sem dúvidas que o Corredor do Lobito virou um ex-libris e chama muita atenção não é só do ponto de vista do investimento nas infraestruturas de transporte, mas também de infraestruturas de apoio à logística e sobretudo a montante e a jusante, investimentos no sector agrícola, mineral e nos serviços à volta deste corredor.
A França anunciou que está a ser também concluído um acordo para o fornecimento de um satélite a Angola, com o apoia da empresa Airbus e com o financiamento francês da instituição financeira Société Générale. O que é que a França pode aportar a Angola neste domínio?
O domínio das telecomunicações é também uma das grandes preocupações do executivo e da sociedade angolana. Aliás, nós não podemos ter todos esses investimentos sem ter uma grande base de suporte que vem sobretudo do sector de telecomunicações.
Historicamente, nós tivemos algumas tentativas de ter um satélite, sobretudo com apoio tecnológico e fabricado na Rússia. Agora vamos ter provavelmente a possibilidade de ter um satélite ou algum investimento massivo no sector vindo da França. É sempre bom para um país como o nosso ter diferentes alternativas, ter diferentes opções. Vamos lá ver o que é que no dia a dia, em termos práticos, quer para os empresários, cidadãos ou operações económicas e sociais que fazem.
A França diz estar disponível para ajudar no sector da saúde, nomeadamente na construção de um hospital oftalmológico, no fornecimento de material hospitalar e também no sector da educação. Sectores prioritários e cujo investimento acaba por ter mais impactos na vida dos angolanos…
Claramente, e aqui começando com o sector da educação, Angola é um país eminentemente jovem e apoios podem garantir que esta geração adquira as competências necessárias para usufruir em todo este investimento tecnológico que se apresenta no sector da agricultura, por exemplo. Muitos dos nossos institutos médios técnicos do sector agrícola contam com o apoio e com uma forte intervenção da França.
O segundo desafio é claramente no sector da saúde, mas aqui é importante fazer diferente. Não se trata simplesmente de apoio na construção de infraestruturas e equipamentos, mas assegurar que haja uma formação de quadros e desses equipamentos. Isto porque temos hospitais de grande dimensão que depois funcionam aquém da sua capacidade, porque não há ou quadros suficientemente preparados ou equipamentos técnicos, ou se calhar porque não há uma assessoria política de saúde que seja mais adequada para a realidade do país.
A França tem aqui uma grande oportunidade de reescrever e melhorar aquilo que, provavelmente, não fez bem naquilo que têm sido as relações com uma série de países africanos. Ela pode fazer diferente para não ter o risco de se repetir o que se verificou. Há medida que os ciclos políticos vão passando, que os regimes políticos vão mudando, fica sempre uma mágoa em que determinados povos pensam que esta relação [França-África] não foi benéfica para todos. Então, é importante basear estas relações na igualdade, no respeito mútuo e nas vantagens múltiplas.
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