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RDC/Ruanda: "Não me parece que a resolução do conflito passe pela mediação de Angola"
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O Presidente de Angola, João Lourenço, inicia nesta quinta-feira, 16 de Janeiro, uma visita de Estado de 48 horas a França a convite do homólogo Emmanuel Macron. Para além da cooperação bilateral, os dois estadistas devem abordar os conflitos políticos no continente africano, nomeadamente a crise entre a RDC e o Ruanda. O sociólogo angolano, David Boio, não reconhece os ganhos da diplomacia de João Lourenço e mostra-se céptico quanto à mediação angolana no conflito que opõe a RDC ao Ruanda.
A presidência francesa reconhece “os esforços de Angola” ma mediação do conflito que opõe a RDC ao Ruanda. Que análise faz da mediação angolana?
Penso que a nível da presidência pode-se ter colocado muitas expectativas no sucesso desta mediação, inclusive quando atribuíram a João Lourenço o título de Campeão da Paz. Não me parece que a resolução do conflito passa por essa mediação. É preciso saber que nestes processos há questões práticas, o Presidente João Lourenço nem sequer fala francês, nem inglês. Como é que são feitas essas mediações do ponto de vista prático?
A verdade é que até hoje não houve grandes progressos. Quando os rebeldes do grupo M23 tomaram de assalto a cidade estratégica de Masisi, a presidência de Angola fez um comunicado a reprovar esta acção, mas isso não teve consequências. Eu penso que o que Angola, em termos de conflitos, aprendeu é que os conflitos devem ser resolvidos pelos intervenientes. Tudo quanto é mediação ajuda, mas se não existir vontade própria dos actores e dos intervenientes será muito difícil que se criem grandes resultados.
João Lourenço realiza esta visita a França enquanto Presidente de Angola, mas também como futuro presidente da União Africana. Qual é que será o papel de Angola na presidência União Africana, nomeadamente na mediação de outros conflitos, como, por exemplo, o do Sudão, a situação política que se vive em Moçambique?
A União Africana é uma organização complicada. Por exemplo, no caso de Moçambique, não há dúvidas do tipo de eleições que houve no país, mas este tipo de eleições não são diferentes do tipo de eleições que são feitas em Angola. Assim sendo, não há autoridade moral, nem política para se imiscuir nos assuntos dos outros países.
Agora, a questão é que nós temos em África, infelizmente, uma espécie de coligação entre líderes autoritários e que implementam essa agenda autoritária. Por isso, afirmar-se que vai haver um impacto de Angola para qualquer outra coisa que não seja a perpetuação do autoritarismo nesses países, acho muito difícil.
Angola é um Estado autoritário. João Lourenço é líder de um país autoritário, todo o resto é fácil de perceber o que daí pode vir. Depois é preciso compreender que as relações entre os países africanos são complicadas. João Lourenço prefere deslocar-se a França do que ir a Moçambique para participar na tomada de posse de Daniel Chapo. Não sabemos bem o porquê, nem sabemos tão pouco os resultados desta viagem. O próprio Emmanuel Macron mantém, actualmente, relações difíceis com os países do Sahel.
Considera que as autoridades francesas poderão aproveitar esta visita de João Lourenço para mostrar que a França consegue manter boas relações com os países africanos?
O que representa João Lourenço para esses países? Não parece que represente grande coisa. Acho que por essa via, não me parece que a França ganhe alguma coisa. Estamos a falar de Estados africanos que são, para todos os efeitos, Estados soberanos e autónomos.
Agora, Angola podia ser mais solidária relativamente aos outros Estados africanos, face a esse clima entre a França e os Estados africanos do Sahel.
Aquilo que sentimos em Angola é que João Lourenço é o Presidente que mais viaja e durante todas essas imensas viagens que faz, o país não tem visto nenhum resultado positivo. João Lourenço diz que viaja para fazer diplomacia económica, mas o país está cada vez menos atractivo do ponto de vista económico.
Não acredita, então, que João Lourenço, na qualidade de presidente da União Africana, possa ajudar a França, por exemplo, neste conflito que existe neste momento com a Argélia.
A União Africana é uma união, entre Estados autoritários, que nem sequer consegue resolver conflitos internos. Eu penso que nós, angolanos, sobrevalorizamo-nos muito. Os outros países não olham assim para nós.
Mas este convite de Emmanuel Macron mostra que existe do lado das autoridades francesas uma vontade de estreitar as parcerias com Angola…
A França deve ter os seus interesses. Agora está na moda o Corredor do Lobito. A história mostra-nos que os países europeus, os países ocidentais, sabem sempre o que querem e quais são os seus interesses. Agora do nosso lado, não quer dizer que saibamos.
Pensa que se trata de uma parceria onde apenas um lado vai ganhar. É isso o que está a dizer?
O problema é que, pela natureza do nosso regime político, as coisas não são transparentes. Não temos informações suficientes para saber quem é que vai ganhar.
João Lourenço visita o país dos direitos do Homem. Considera que seria importante que o Presidente francês, Emmanuel Macron, abordasse com o homólogo angolano a questão dos direitos humanos em Angola? No último relatório feito pela Amnistia Internacional, a ONG denuncia um padrão de uso excessivo e desnecessário da força pela polícia durante o mandato do presidente João Lourenço…
Por que razão haveria de fazer isso? Acho que não interessa a Emmanuel Macron abordar esse assunto. Esta visita acontece para que se possa tratar de negócios não para falar de direitos humanos. Por que razão deveriam as autoridades francesas criar constrangimentos a João Lourenço? Penso que não o farão. Os angolanos é que têm de lidar com essas questões. Seja a França ou os Estados Unidos, há cada vez menos essa ilusão.
Durante muito tempo dizíamos que a China não era um bom parceiro para Angola, porque só queria saber de negócios e não do respeito pelos direitos humanos. Mas hoje, pelos visto, acontece com todos os parceiros internacionais.
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O Presidente de Angola, João Lourenço, inicia nesta quinta-feira, 16 de Janeiro, uma visita de Estado de 48 horas a França a convite do homólogo Emmanuel Macron. Para além da cooperação bilateral, os dois estadistas devem abordar os conflitos políticos no continente africano, nomeadamente a crise entre a RDC e o Ruanda. O sociólogo angolano, David Boio, não reconhece os ganhos da diplomacia de João Lourenço e mostra-se céptico quanto à mediação angolana no conflito que opõe a RDC ao Ruanda.
A presidência francesa reconhece “os esforços de Angola” ma mediação do conflito que opõe a RDC ao Ruanda. Que análise faz da mediação angolana?
Penso que a nível da presidência pode-se ter colocado muitas expectativas no sucesso desta mediação, inclusive quando atribuíram a João Lourenço o título de Campeão da Paz. Não me parece que a resolução do conflito passa por essa mediação. É preciso saber que nestes processos há questões práticas, o Presidente João Lourenço nem sequer fala francês, nem inglês. Como é que são feitas essas mediações do ponto de vista prático?
A verdade é que até hoje não houve grandes progressos. Quando os rebeldes do grupo M23 tomaram de assalto a cidade estratégica de Masisi, a presidência de Angola fez um comunicado a reprovar esta acção, mas isso não teve consequências. Eu penso que o que Angola, em termos de conflitos, aprendeu é que os conflitos devem ser resolvidos pelos intervenientes. Tudo quanto é mediação ajuda, mas se não existir vontade própria dos actores e dos intervenientes será muito difícil que se criem grandes resultados.
João Lourenço realiza esta visita a França enquanto Presidente de Angola, mas também como futuro presidente da União Africana. Qual é que será o papel de Angola na presidência União Africana, nomeadamente na mediação de outros conflitos, como, por exemplo, o do Sudão, a situação política que se vive em Moçambique?
A União Africana é uma organização complicada. Por exemplo, no caso de Moçambique, não há dúvidas do tipo de eleições que houve no país, mas este tipo de eleições não são diferentes do tipo de eleições que são feitas em Angola. Assim sendo, não há autoridade moral, nem política para se imiscuir nos assuntos dos outros países.
Agora, a questão é que nós temos em África, infelizmente, uma espécie de coligação entre líderes autoritários e que implementam essa agenda autoritária. Por isso, afirmar-se que vai haver um impacto de Angola para qualquer outra coisa que não seja a perpetuação do autoritarismo nesses países, acho muito difícil.
Angola é um Estado autoritário. João Lourenço é líder de um país autoritário, todo o resto é fácil de perceber o que daí pode vir. Depois é preciso compreender que as relações entre os países africanos são complicadas. João Lourenço prefere deslocar-se a França do que ir a Moçambique para participar na tomada de posse de Daniel Chapo. Não sabemos bem o porquê, nem sabemos tão pouco os resultados desta viagem. O próprio Emmanuel Macron mantém, actualmente, relações difíceis com os países do Sahel.
Considera que as autoridades francesas poderão aproveitar esta visita de João Lourenço para mostrar que a França consegue manter boas relações com os países africanos?
O que representa João Lourenço para esses países? Não parece que represente grande coisa. Acho que por essa via, não me parece que a França ganhe alguma coisa. Estamos a falar de Estados africanos que são, para todos os efeitos, Estados soberanos e autónomos.
Agora, Angola podia ser mais solidária relativamente aos outros Estados africanos, face a esse clima entre a França e os Estados africanos do Sahel.
Aquilo que sentimos em Angola é que João Lourenço é o Presidente que mais viaja e durante todas essas imensas viagens que faz, o país não tem visto nenhum resultado positivo. João Lourenço diz que viaja para fazer diplomacia económica, mas o país está cada vez menos atractivo do ponto de vista económico.
Não acredita, então, que João Lourenço, na qualidade de presidente da União Africana, possa ajudar a França, por exemplo, neste conflito que existe neste momento com a Argélia.
A União Africana é uma união, entre Estados autoritários, que nem sequer consegue resolver conflitos internos. Eu penso que nós, angolanos, sobrevalorizamo-nos muito. Os outros países não olham assim para nós.
Mas este convite de Emmanuel Macron mostra que existe do lado das autoridades francesas uma vontade de estreitar as parcerias com Angola…
A França deve ter os seus interesses. Agora está na moda o Corredor do Lobito. A história mostra-nos que os países europeus, os países ocidentais, sabem sempre o que querem e quais são os seus interesses. Agora do nosso lado, não quer dizer que saibamos.
Pensa que se trata de uma parceria onde apenas um lado vai ganhar. É isso o que está a dizer?
O problema é que, pela natureza do nosso regime político, as coisas não são transparentes. Não temos informações suficientes para saber quem é que vai ganhar.
João Lourenço visita o país dos direitos do Homem. Considera que seria importante que o Presidente francês, Emmanuel Macron, abordasse com o homólogo angolano a questão dos direitos humanos em Angola? No último relatório feito pela Amnistia Internacional, a ONG denuncia um padrão de uso excessivo e desnecessário da força pela polícia durante o mandato do presidente João Lourenço…
Por que razão haveria de fazer isso? Acho que não interessa a Emmanuel Macron abordar esse assunto. Esta visita acontece para que se possa tratar de negócios não para falar de direitos humanos. Por que razão deveriam as autoridades francesas criar constrangimentos a João Lourenço? Penso que não o farão. Os angolanos é que têm de lidar com essas questões. Seja a França ou os Estados Unidos, há cada vez menos essa ilusão.
Durante muito tempo dizíamos que a China não era um bom parceiro para Angola, porque só queria saber de negócios e não do respeito pelos direitos humanos. Mas hoje, pelos visto, acontece com todos os parceiros internacionais.
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