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Capitão Fausto em Paris para abrir novos caminhos
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O vocalista e guitarrista Capitão Fausto, Tomás Wallenstein, está em Paris a participar no MaMA Music & Convention para ouvir e conhecer novos artistas, mas também para representar a banda e apresentar o projecto a futuros parceiros. Tomás Wallenstein explica, ainda, que a internacionalização surge após anos de consolidação em Portugal e está convencido de que conhecer outros artistas e novos públicos pode enriquecer o processo criativo.
RFI: Como é que está a ser a experiência de participar no festival MaMA Music & Convention, não só no lado dos artistas, mas no lado do público?
Tomás Wallenstein: Em primeiro lugar, Paris está a tratar-me muito bem. Cheguei ontem, tem valido muito a pena estar aqui e não é uma coisa rara para mim e para os Capitão Fausto, em geral, estarmos do lado do público, estarmos do lado de quem vai ver e ouvir música. E a principal razão pela qual eu vim ao Mama este ano foi para isso: para ouvir, para ver o que é que está a acontecer e para conhecer artistas e conhecer um bocadinho mais por dentro o tecido da música aqui da cena musical francesa. Está a ser muito interessante. Ontem, vi concertos muito interessantes, vi salas e está a ser interessante conhecer as salas e ir aprofundando o meu conhecimento. Vamos fazendo amigos e portanto está a ser uma boa experiência até agora.
Está do lado do público e, inevitavelmente, está a representar o grupo Capitão Fausto. E é também esse espaço que vai ocupar nestes próximos dias que é fazer contactos?
É evidente que temos alguns planos para o próximo ano e que envolvem a cidade de Paris e, portanto, faz todo o sentido vir conhecer pessoas e apresentar o nosso projecto e os nossos planos e ficar com parceiros que possam fazer este caminho connosco, que de certeza que vai correr muito bem. Até agora as pessoas várias que conhecemos ficamos muito impressionados e acho que estamos com boas perspectivas.
Os Capitão Fausto preservam e reinventam a música portuguesa mantém o idioma como parte central das canções, abordam questões sociais, pessoais, sempre em diálogo com a realidade portuguesa. Vocês têm mostrado que é possível criar música original, autêntica na língua portuguesa e parece ser fácil de quem vê de fora na forma como o fazem. Como é que os Capitão Fausto são vistos fora de Portugal e conseguem ter essa perceção da vossa música no exterior?
Isso é a pergunta que nós também estamos a começar a fazer nós próprios. Mas eu acredito que a linguagem é cada vez menos uma barreira. Acho que nós estamos cada vez mais habituados a ver cinema, a ver televisão, a ver coisas no telemóvel legendadas na sua língua original, o cinema falado nas línguas mais dos sítios dos países de onde vêm com maior exposição é a música também. Existe um lugar que é o lugar que nós também queremos procurar, em que as coisas existem, como elas nasceram no sítio e que se junta no mesmo palco, no mesmo festival, num mesmo circuito. Vários interlocutores a falar da maneira que sabem melhor. E é essa a principal razão pela qual eu escrevo em português. E nós e nós fazemos as canções que fazemos por ser, evidentemente, a maneira de comunicar mais prática.
A língua portuguesa não é o entrave neste caso e até pode ser uma descoberta de novas sonoridades para um público francês, por exemplo?
Eu acredito que sim. Se eu tivesse só a fazer literatura também existe maneiras da literatura atravessar fronteiras através da tradução e por aí fora. E a música é uma linguagem universal e eu acredito que os Capitão Fausto conseguem mostrar-se num concerto e extravasar o primeiro confronto com uma língua que não se percebe imediatamente. Acho que depois acrescenta camadas à experiência musical e isso tem me acontecido muito com música italiana que vou ouvindo e sueca e é holandesa e francesa - que eu percebo muito bem - mas de outras línguas que não percebo e só à quinta ou sexta escuta é que eu vou retirando cada vez mais camadas e vou descobrir a letra, ao ir ver traduções e perceber o que é que ali está dito. Eu acho que é uma experiência enriquecedora. Acredito piamente que muita gente, muito público esteja esteja para aí virado.
Capitão Fausto publicou cinco álbuns, o grupo foi criado em 2009. Por que é que a internacionalização acontece agora?
A nossa primeira digressão com a nossa formação original, justamente em 2009 ou em 2010, não foi em Portugal, foi em Ibiza a tocar covers de Elvis e de Beatles e não sei o quê por bares. É sempre uma questão de momento. Nós fizemos uma escolha na nossa carreira de investir muito no nosso país e de investir e consolidar a nossa posição dentro de Portugal. E tivemos a sorte de conseguir criar um público que é muito próximo, que nos acompanha, nos acarinha e que nos dá muita energia para continuar a trabalhar. O momento da internacionalização vem a seguir e esse, vem num gesto de procurar mais público. Vem num gesto de nós podermos conhecer, crescer como artistas, conhecer realidades diferentes. É preciso ter sempre um sentido de oportunidade. E surgiu este. É evidente que os anos da pandemia atrasaram tudo numa gestão de carreira. Qualquer carreira, calculo eu, mas uma carreira artística mais ainda, ficou um bocadinho estagnada com a altura da pandemia. E foi também o nosso caso. Mas felizmente está tudo caminhar bem.
Como dizia, conhecer novos artistas vai influenciar e vai criar novas vias, novas estradas para um grupo?
Inevitavelmente, conhecer novos artistas sem dúvida é a parte da colaboração, quando se faz colaborações por fora, nós saímos um bocadinho da nossa zona de conforto e estamos a ouvir ideias de outras pessoas, mas também conhecer públicos diferentes, conhecer salas diferentes, cidades diferentes. Tudo isso influencia. A arte é a ciência que estuda a condição humana é o que explica o que é que é nós estarmos vivos e, portanto, qualquer vivência é um acrescento à construção do trabalho artístico.
Como é que o público pode influenciar o público?
O público influencia de muitas maneiras; da maneira como reage, da maneira como nos dá feedback no fim do concerto, na maneira como aparece ou não aparece. Uma ausência de público também influencia; e eu acho que nós temos de ser seres muito ativos e muito atentos ao que está à nossa volta.
O músico brasileiro Tim Bernardes colaborou com vocês neste novo álbum, editado este ano, Subida infinita. Tim Bernardes esteve recentemente nos nossos estúdios, onde falou desta colaboração e da admiração que tem por vocês, por Capitão Fausto. Como é que foi trabalhar com Tim Bernardes e em que medida é que participar neste festival também pode criar novas colaborações?
Em primeiro lugar, o Tim seria a pessoa mais óbvia para haver uma primeira colaboração numa gravação de uma música original e que foi o que aconteceu. Em nenhum disco nosso aparece algum featuring, alguma outra voz. O Tim é a escolha mais óbvia, porque nós temos uma amizade que já tem muitos anos e já trabalhamos muito juntos e temos uma espécie de uma vida paralela, separada pelo Oceano Atlântico. O Terno e o Capitão Fausto nasceram no mesmo ano, fizeram faculdade nas mesmas alturas, atravessaram as mesmas fases de vida. Começa a se ver as letras e falam mais ou menos das mesmas coisas em cada fase. Portanto, tivemos assim um crescimento em paralelo e quando nos fomos conhecendo e percebendo estas coincidências, aproximámo-nos muito e trabalhámos muito bem juntos. Tocámos umas versões das músicas do Tim, numa das vezes que ele esteve lá no nosso estúdio em Alvalade, fizemos um concerto em conjunto no Rio de Janeiro com o Terno que foi uma das experiências mais marcantes porque montámos em quatro dias um espetáculo de uma forma que nunca tínhamos feito antes: duas bandas a fazerem repertório em conjunto, tudo em duplicado, duas baterias, dois baixos e portanto foi um espetáculo muito curioso de montar, muito imediato. E depois viveu só ali e ali aconteceu. Um dia há de ser repetido, espero eu.
Editado, quem sabe?
Talvez, talvez ... Por acaso não sei se foi gravado, mas pelo menos vamos replicar esse concerto e talvez aqui em Paris. Fausto- Terno, Capitão Fausto é o terno. O Terno que por acaso está a vir a Portugal agora em digressão. A participação do Tim foi muito fácil em termos de trabalhar e calhou numa altura em que ele estava a fazer um concerto no Coliseu, em Janeiro do ano passado, e que já tinha vindo antes.Acompanhou um bocadinho o processo de não estarmos a acabar o nosso disco e nós reservamos este lugar para ele e foi bastante evidente. Parece pelo menos que para ele foi muito fácil, ouvi-lo a cantar parece me que é fácil, parece muito natural, uma naturalidade invejável.
E ouvir vos a cantar também parece que é sempre fácil. É fácil?
Dá muito trabalho. Eu acho que nós somos um bocadinho exigentes. Há uma tendência crescente quando se trabalha em coisas criativas. Os critérios começaram a ficar cada vez mais apertados e nesse aspecto, acho que a parte que começa a dificultar começamos a por complicações na tomada de decisões, geralmente. A ser cada vez mais exigentes e começa a torna-se difícil encontrar uma ideia de que gostemos à partida. E é com isso que nós temos lidado ultimamente. E eu acho que isso o que faz estende os períodos de criação um bocadinho mais e torna nos um bocadinho mais exaustivos. No entanto, é fácil fazer aquilo que fazemos na perspectiva em que aquilo que gostamos de o fazer e fazemo-lo com alegria. E dar um concerto que continua a ser uma fase alta da nossa semana, estar em conjunto a acabar uma música e a ter a sensação de que cumprimos ainda é uma das grande alegrias e portanto, essa parte sim, é fácil.
Como é que tem sido a evolução de Capitão Fausto nos últimos dois álbuns? Neste e no penúltimo álbum dá ideia que se estão a desligar um pouco do rock que se estão a aproximar mais da música portuguesa, com arranjos modernos, mas sempre guardando sons nostálgicos dos anos 60, 70, 80 da música portuguesa. Quem não viveu esses anos consegue ainda assim sentir essa nostalgia. Como é que é possível sentir uma nostalgia de um tempo que não foi vivido?
É como ver um filme de Ficção científica (Sci-Fi) ou como ver um filme da Idade Média. Uma pessoa consegue transportar-e para lá, se calhar com mais detalhe e mais realismo do que quando temos uma memória muito fresca. Porque aí não é um mito, é uma realidade, não é? A música dos anos 60 e 70 foi sempre aquilo que nos motivou mais e onde nós regressamos sempre numa espécie de manifesto da música popular, da música pop e do rock. Há muitos períodos da minha vida em que eu já não estou a ouvir propriamente muito estes discos, mas ciclicamente regresso aos Beatles e regresso ao Elvis e regresso ao Zé Mário Branco e ao Fausto e ao Zeca Afonso, para depois voltar às coisas do presente.
Mas há uma vontade de reinventar estas sonoridades?
Sim, eu acho que existe ali um manifesto nessa época, um manifesto entre aspas, mas existe uma receita basilar que é aquela que se pode sempre aplicar para a música popular, acho eu. Existe uma estética muito cunhada, muito vincada dessa altura que continua a fazer muito sentido em termos de transmitir emoções e transmitir sentimentos e pensamentos. É-nos muito natural e também não é muito escolhido. Acho que é talvez aquilo que nós podemos dizer que é mais constante na nossa música, que já foi feito e que há de vir. É um bocadinho termos uma referência vaga dessa época.
Subida Infinita foi lançado no início deste ano. Em média, têm produzido um disco todos os três anos. Há novos planos para breve?
Há sem dúvida novos planos. Ainda é cedo para falar no plano mais imediato, mas posso dizer que é uma coisa onde nós saímos um bocadinho mais do nosso contexto e um bocadinho mais fora do nosso universo habitual e um projecto muito grande que já estamos a fazer há muitos anos e que vem para o próximo ano. Eu falarei dele com todo o gosto quando estiver na altura. Temos um projecto também, um projecto que é uma coisa que está a acontecer há dez anos, que é a nossa editora, que é a Cuca Monga, que trabalha com muitos artistas emergentes da de cena, principalmente de Lisboa, mas de Portugal. Isso também tem evoluído nos últimos anos, cresceu muito e criámos um espaço de encontro onde temos um estúdio e temos a editora a trabalhar já com pessoas a tempo inteiro e, portanto, também tem sido um ponto de encontro de pessoas, de pensamentos, de artistas. Temos conhecido muita gente à volta da Cuca Monga e também é um projecto para os próximos tempos que nos ocupa muito. E fazer música nova de há de acontecer. Estamos. Estamos em estúdio todos os dias agora. Portanto, quando puder, virei cá falar sobre isso.
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O vocalista e guitarrista Capitão Fausto, Tomás Wallenstein, está em Paris a participar no MaMA Music & Convention para ouvir e conhecer novos artistas, mas também para representar a banda e apresentar o projecto a futuros parceiros. Tomás Wallenstein explica, ainda, que a internacionalização surge após anos de consolidação em Portugal e está convencido de que conhecer outros artistas e novos públicos pode enriquecer o processo criativo.
RFI: Como é que está a ser a experiência de participar no festival MaMA Music & Convention, não só no lado dos artistas, mas no lado do público?
Tomás Wallenstein: Em primeiro lugar, Paris está a tratar-me muito bem. Cheguei ontem, tem valido muito a pena estar aqui e não é uma coisa rara para mim e para os Capitão Fausto, em geral, estarmos do lado do público, estarmos do lado de quem vai ver e ouvir música. E a principal razão pela qual eu vim ao Mama este ano foi para isso: para ouvir, para ver o que é que está a acontecer e para conhecer artistas e conhecer um bocadinho mais por dentro o tecido da música aqui da cena musical francesa. Está a ser muito interessante. Ontem, vi concertos muito interessantes, vi salas e está a ser interessante conhecer as salas e ir aprofundando o meu conhecimento. Vamos fazendo amigos e portanto está a ser uma boa experiência até agora.
Está do lado do público e, inevitavelmente, está a representar o grupo Capitão Fausto. E é também esse espaço que vai ocupar nestes próximos dias que é fazer contactos?
É evidente que temos alguns planos para o próximo ano e que envolvem a cidade de Paris e, portanto, faz todo o sentido vir conhecer pessoas e apresentar o nosso projecto e os nossos planos e ficar com parceiros que possam fazer este caminho connosco, que de certeza que vai correr muito bem. Até agora as pessoas várias que conhecemos ficamos muito impressionados e acho que estamos com boas perspectivas.
Os Capitão Fausto preservam e reinventam a música portuguesa mantém o idioma como parte central das canções, abordam questões sociais, pessoais, sempre em diálogo com a realidade portuguesa. Vocês têm mostrado que é possível criar música original, autêntica na língua portuguesa e parece ser fácil de quem vê de fora na forma como o fazem. Como é que os Capitão Fausto são vistos fora de Portugal e conseguem ter essa perceção da vossa música no exterior?
Isso é a pergunta que nós também estamos a começar a fazer nós próprios. Mas eu acredito que a linguagem é cada vez menos uma barreira. Acho que nós estamos cada vez mais habituados a ver cinema, a ver televisão, a ver coisas no telemóvel legendadas na sua língua original, o cinema falado nas línguas mais dos sítios dos países de onde vêm com maior exposição é a música também. Existe um lugar que é o lugar que nós também queremos procurar, em que as coisas existem, como elas nasceram no sítio e que se junta no mesmo palco, no mesmo festival, num mesmo circuito. Vários interlocutores a falar da maneira que sabem melhor. E é essa a principal razão pela qual eu escrevo em português. E nós e nós fazemos as canções que fazemos por ser, evidentemente, a maneira de comunicar mais prática.
A língua portuguesa não é o entrave neste caso e até pode ser uma descoberta de novas sonoridades para um público francês, por exemplo?
Eu acredito que sim. Se eu tivesse só a fazer literatura também existe maneiras da literatura atravessar fronteiras através da tradução e por aí fora. E a música é uma linguagem universal e eu acredito que os Capitão Fausto conseguem mostrar-se num concerto e extravasar o primeiro confronto com uma língua que não se percebe imediatamente. Acho que depois acrescenta camadas à experiência musical e isso tem me acontecido muito com música italiana que vou ouvindo e sueca e é holandesa e francesa - que eu percebo muito bem - mas de outras línguas que não percebo e só à quinta ou sexta escuta é que eu vou retirando cada vez mais camadas e vou descobrir a letra, ao ir ver traduções e perceber o que é que ali está dito. Eu acho que é uma experiência enriquecedora. Acredito piamente que muita gente, muito público esteja esteja para aí virado.
Capitão Fausto publicou cinco álbuns, o grupo foi criado em 2009. Por que é que a internacionalização acontece agora?
A nossa primeira digressão com a nossa formação original, justamente em 2009 ou em 2010, não foi em Portugal, foi em Ibiza a tocar covers de Elvis e de Beatles e não sei o quê por bares. É sempre uma questão de momento. Nós fizemos uma escolha na nossa carreira de investir muito no nosso país e de investir e consolidar a nossa posição dentro de Portugal. E tivemos a sorte de conseguir criar um público que é muito próximo, que nos acompanha, nos acarinha e que nos dá muita energia para continuar a trabalhar. O momento da internacionalização vem a seguir e esse, vem num gesto de procurar mais público. Vem num gesto de nós podermos conhecer, crescer como artistas, conhecer realidades diferentes. É preciso ter sempre um sentido de oportunidade. E surgiu este. É evidente que os anos da pandemia atrasaram tudo numa gestão de carreira. Qualquer carreira, calculo eu, mas uma carreira artística mais ainda, ficou um bocadinho estagnada com a altura da pandemia. E foi também o nosso caso. Mas felizmente está tudo caminhar bem.
Como dizia, conhecer novos artistas vai influenciar e vai criar novas vias, novas estradas para um grupo?
Inevitavelmente, conhecer novos artistas sem dúvida é a parte da colaboração, quando se faz colaborações por fora, nós saímos um bocadinho da nossa zona de conforto e estamos a ouvir ideias de outras pessoas, mas também conhecer públicos diferentes, conhecer salas diferentes, cidades diferentes. Tudo isso influencia. A arte é a ciência que estuda a condição humana é o que explica o que é que é nós estarmos vivos e, portanto, qualquer vivência é um acrescento à construção do trabalho artístico.
Como é que o público pode influenciar o público?
O público influencia de muitas maneiras; da maneira como reage, da maneira como nos dá feedback no fim do concerto, na maneira como aparece ou não aparece. Uma ausência de público também influencia; e eu acho que nós temos de ser seres muito ativos e muito atentos ao que está à nossa volta.
O músico brasileiro Tim Bernardes colaborou com vocês neste novo álbum, editado este ano, Subida infinita. Tim Bernardes esteve recentemente nos nossos estúdios, onde falou desta colaboração e da admiração que tem por vocês, por Capitão Fausto. Como é que foi trabalhar com Tim Bernardes e em que medida é que participar neste festival também pode criar novas colaborações?
Em primeiro lugar, o Tim seria a pessoa mais óbvia para haver uma primeira colaboração numa gravação de uma música original e que foi o que aconteceu. Em nenhum disco nosso aparece algum featuring, alguma outra voz. O Tim é a escolha mais óbvia, porque nós temos uma amizade que já tem muitos anos e já trabalhamos muito juntos e temos uma espécie de uma vida paralela, separada pelo Oceano Atlântico. O Terno e o Capitão Fausto nasceram no mesmo ano, fizeram faculdade nas mesmas alturas, atravessaram as mesmas fases de vida. Começa a se ver as letras e falam mais ou menos das mesmas coisas em cada fase. Portanto, tivemos assim um crescimento em paralelo e quando nos fomos conhecendo e percebendo estas coincidências, aproximámo-nos muito e trabalhámos muito bem juntos. Tocámos umas versões das músicas do Tim, numa das vezes que ele esteve lá no nosso estúdio em Alvalade, fizemos um concerto em conjunto no Rio de Janeiro com o Terno que foi uma das experiências mais marcantes porque montámos em quatro dias um espetáculo de uma forma que nunca tínhamos feito antes: duas bandas a fazerem repertório em conjunto, tudo em duplicado, duas baterias, dois baixos e portanto foi um espetáculo muito curioso de montar, muito imediato. E depois viveu só ali e ali aconteceu. Um dia há de ser repetido, espero eu.
Editado, quem sabe?
Talvez, talvez ... Por acaso não sei se foi gravado, mas pelo menos vamos replicar esse concerto e talvez aqui em Paris. Fausto- Terno, Capitão Fausto é o terno. O Terno que por acaso está a vir a Portugal agora em digressão. A participação do Tim foi muito fácil em termos de trabalhar e calhou numa altura em que ele estava a fazer um concerto no Coliseu, em Janeiro do ano passado, e que já tinha vindo antes.Acompanhou um bocadinho o processo de não estarmos a acabar o nosso disco e nós reservamos este lugar para ele e foi bastante evidente. Parece pelo menos que para ele foi muito fácil, ouvi-lo a cantar parece me que é fácil, parece muito natural, uma naturalidade invejável.
E ouvir vos a cantar também parece que é sempre fácil. É fácil?
Dá muito trabalho. Eu acho que nós somos um bocadinho exigentes. Há uma tendência crescente quando se trabalha em coisas criativas. Os critérios começaram a ficar cada vez mais apertados e nesse aspecto, acho que a parte que começa a dificultar começamos a por complicações na tomada de decisões, geralmente. A ser cada vez mais exigentes e começa a torna-se difícil encontrar uma ideia de que gostemos à partida. E é com isso que nós temos lidado ultimamente. E eu acho que isso o que faz estende os períodos de criação um bocadinho mais e torna nos um bocadinho mais exaustivos. No entanto, é fácil fazer aquilo que fazemos na perspectiva em que aquilo que gostamos de o fazer e fazemo-lo com alegria. E dar um concerto que continua a ser uma fase alta da nossa semana, estar em conjunto a acabar uma música e a ter a sensação de que cumprimos ainda é uma das grande alegrias e portanto, essa parte sim, é fácil.
Como é que tem sido a evolução de Capitão Fausto nos últimos dois álbuns? Neste e no penúltimo álbum dá ideia que se estão a desligar um pouco do rock que se estão a aproximar mais da música portuguesa, com arranjos modernos, mas sempre guardando sons nostálgicos dos anos 60, 70, 80 da música portuguesa. Quem não viveu esses anos consegue ainda assim sentir essa nostalgia. Como é que é possível sentir uma nostalgia de um tempo que não foi vivido?
É como ver um filme de Ficção científica (Sci-Fi) ou como ver um filme da Idade Média. Uma pessoa consegue transportar-e para lá, se calhar com mais detalhe e mais realismo do que quando temos uma memória muito fresca. Porque aí não é um mito, é uma realidade, não é? A música dos anos 60 e 70 foi sempre aquilo que nos motivou mais e onde nós regressamos sempre numa espécie de manifesto da música popular, da música pop e do rock. Há muitos períodos da minha vida em que eu já não estou a ouvir propriamente muito estes discos, mas ciclicamente regresso aos Beatles e regresso ao Elvis e regresso ao Zé Mário Branco e ao Fausto e ao Zeca Afonso, para depois voltar às coisas do presente.
Mas há uma vontade de reinventar estas sonoridades?
Sim, eu acho que existe ali um manifesto nessa época, um manifesto entre aspas, mas existe uma receita basilar que é aquela que se pode sempre aplicar para a música popular, acho eu. Existe uma estética muito cunhada, muito vincada dessa altura que continua a fazer muito sentido em termos de transmitir emoções e transmitir sentimentos e pensamentos. É-nos muito natural e também não é muito escolhido. Acho que é talvez aquilo que nós podemos dizer que é mais constante na nossa música, que já foi feito e que há de vir. É um bocadinho termos uma referência vaga dessa época.
Subida Infinita foi lançado no início deste ano. Em média, têm produzido um disco todos os três anos. Há novos planos para breve?
Há sem dúvida novos planos. Ainda é cedo para falar no plano mais imediato, mas posso dizer que é uma coisa onde nós saímos um bocadinho mais do nosso contexto e um bocadinho mais fora do nosso universo habitual e um projecto muito grande que já estamos a fazer há muitos anos e que vem para o próximo ano. Eu falarei dele com todo o gosto quando estiver na altura. Temos um projecto também, um projecto que é uma coisa que está a acontecer há dez anos, que é a nossa editora, que é a Cuca Monga, que trabalha com muitos artistas emergentes da de cena, principalmente de Lisboa, mas de Portugal. Isso também tem evoluído nos últimos anos, cresceu muito e criámos um espaço de encontro onde temos um estúdio e temos a editora a trabalhar já com pessoas a tempo inteiro e, portanto, também tem sido um ponto de encontro de pessoas, de pensamentos, de artistas. Temos conhecido muita gente à volta da Cuca Monga e também é um projecto para os próximos tempos que nos ocupa muito. E fazer música nova de há de acontecer. Estamos. Estamos em estúdio todos os dias agora. Portanto, quando puder, virei cá falar sobre isso.
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